sexta-feira, 24 de junho de 2011
Chico Santana da Portela
Se você procurar imagens e discos de Chico Santana (Francisco Felisberto Santana, Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1911 - Rio de Janeiro, 26 de março de 1988) vai encontrar, quando muito, uma ponta no programa Ensaio da Velha Guarda da Portela (produzido pela TV Cultura). Discos solo? Nenhum. Gravações? Poucas e raras.
Francisco Santana era uma pessoa comum, um dos tantos negros cariocas da periferia, residente em Osvaldo Cruz. De profissão foi lustrador de móveis até quase o fim. Foi traído e não traiu jamais. Chico Traidor, como também era chamado, freqüentava as rodas e foi levado para a Portela por Alvaiade. Não teve grandes pretensões: compositor, poeta popular anônimo com letras sobre amor, traição e desilusão e, sobretudo, apaixonado pela Portela e sua comunidade. Mas, aí, se você olhar de forma diferente e ampliar sua percepção das coisas, vai entender o valor de um cidadão como ele.
Vaidade todos temos. Não há quem negue que o reconhecimento dos amigos, de ser querido pelos seus próximos, de receber incentivo por alguma coisa feita com amor e cujo resultado também soa aos outros como algo de valor, não faça bem. A (re)invenção da Velha Guarda, idéia de registro do mestre Paulinho da Viola, transformando esse grupo não mais como uma “ala” de escola de samba, mas como um grupo ativo de compositores, é reconhecimento ao seu trabalho. As Velhas Guardas são símbolos de coletividade e da tentativa de manter os valores colhidos nas ruas, no cotidiano da gente que vive com seus desafios e dificuldades sem perder a ligação com a sua própria cultura. Uma das maiores lições vida que se pode ter. A Velha Guarda de uma Escolas de Samba é a resistência da cultura da periferia, da persistência dos mais velhos e do respeito que eles merecem. Velhos e valorosos que merecem nosso carinho.
Chico Santana não foi apenas Chico Santana. Foi Chico Santana da Portela. E a Portela é aquele tipo de lugar que, quando a gente ouve falar, sabe que vem coisa bonita. Quando a gente ouve a Velha Guarda sente um aperto no peito e os olhos rasos d’água. Por isso, quando cantamos o Hino da Velha Guarda, Noite que tudo esconde, Grande Estrofe de um sambista, não sentimos cantar algo longe, intangível, imobilizado no palco de um artista brilhante. Nada. Ouvimos as histórias de homens que são tangíveis, vozes como as nossas, roucas, meio-desafinadas, imperfeitas. E o coro, ah meus amigos, o coro faz tudo ficar bonito. No coro a afinação é sentimental. O coro somos eu, você e quem gostar de samba.
Por isso, homenagear Chico Santana da Portela é prestar tributo aos nossos ancestrais e, também, saudar esta gente viva, valorosa, nossos mestres que ainda estão aí como vocês estão vendo! Salve o samba! Salve a Portela! Salve a nossa gente!
Fica um abraço para todos aqueles que respeitam a nossa história, valorizam o passado e o trabalho que nos deixou de herança essa cultura. E esperamos que a sociedade preserve esses valores.
(2000) Doce recordação Nikita Music CD
(1986) Doce recordação Selo Office Sambinha. (Japão) LP
(1970) Portela, passado de glória RGE LP
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Marcão.. que texto!
ResponderExcluirFiquei no mais no clima da roda ainda!
Fernandinho!
emocionante!
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